top of page
rioonighpawornie

Psicologia Social Aroldo Rodrigues Pdf 89



De acordo com Jacó-Vilela (2007), essas insatisfações levaram ao desenvolvimento e/ou à adoção de diferentes teorias e metodologias: um grupo de pesquisadores, liderado por Ângela Arruda e Celso Sá, começou a realizar trabalhos a partir de teorias europeias, especialmente a das representações sociais; outro grupo, liderado por Lapassade, Saidón e Barenblit, desenvolveu a análise institucional; já Silvia Lane coordenou o grupo que estabeleceu os fundamentos do que mais tarde viria a ser conhecido como a escola socio-histórica da PUC-SP2 2 Com o fortalecimento dessas teorias e metodologias, começou a pensar-se na necessidade de criar uma associação que representasse as novas Psicologias sociais. De acordo com Lane e Bock (2003), essa necessidade foi bastante discutida durante o congresso da SIP de 1979, sendo que, logo após o evento, foi nomeada uma comissão para redigir o estatuto dessa nova associação. No ano seguinte, durante a reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), esse estatuto foi votado e aprovado, instituindo oficialmente a Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO). Segundo as autoras, as intenções políticas da ABRAPSO sempre foram a construção de uma psicologia social crítica, voltada para os problemas nacionais, que acatasse diferentes correntes epistemológicas, desde que filiadas ao compromisso social de contribuir para a construção de uma sociedade mais justa. A ABRAPSO nasceu da insatisfação com a psicologia européia e americana. Os problemas de nossa sociedade, marcada pela desigualdade social e pela miséria, não encontravam soluções na psicologia social importada como um saber universal dos países do Primeiro Mundo (p. 149). .




psicologia social aroldo rodrigues pdf 89




No entanto, diferentemente da maioria dos textos sobre a história da Psicologia social brasileira, não focaremos nossa análise exclusivamente em divergências epistemológicas e/ou éticas, mas consideraremos, também, as práticas que há décadas vêm caracterizando essas duas psicologias sociais. Em um primeiro momento, analisaremos textos que descrevem pesquisas realizadas ou orientadas por Rodrigues e Lane e apontaremos algumas diferenças fundamentais dessas duas maneiras de fazer pesquisa em Psicologia social (tópico 1). Em um segundo momento, identificaremos alguns dos usos que os trabalhos desses autores possuem nos dias de hoje. Com isso, procuramos discutir em que medida a crise de referência representou uma mudança radical de paradigmas (tópico 2).


Segundo o autor, a situação política que o Brasil vivia na época era bastante favorável ao desenvolvimento dessa nova psicologia social, pois o interesse pelo marxismo, a ênfase na pesquisa-ação e o desejo de mudar a estrutura social eram predominantes entre os universitários. Mas como Rodrigues discordava da fusão entre ciência e política, e como foram frustrados seus esforços para fazer com que seus colegas percebessem que ciência e tecnologia eram áreas distintas, em 1968, ele resolveu voltar aos Estados Unidos, onde passou a lecionar na Claremont Graduate School.


Mas não é somente em pesquisas que essas psicologias sociais se chocam. Nas intervenções, também há diferenças. Como dissemos anteriormente, Rodrigues sustenta que o tecnólogo social deve ser o responsável por intervir nos problemas sociais, enquanto Lane sustenta que teoria e prática devem sempre andar juntas. Um exemplo de como essa controvérsia é vivida na prática está no depoimento cedido por Wanderley Codo à revista Psicologia: Ciência e Profissão. O autor que foi orientando de doutorado de Silvia Lane nos conta que o dirigente de uma determinada empresa decidiu demitir um de seus gerentes e escolheu uma pessoa de outra filial para preencher a vaga, o que causou mal-estar entre os funcionários preteridos para o cargo. Para amenizar os possíveis traumas dessa transição, a empresa contratou um cientista. Entretanto, para Codo,


Os livros de Lane são, também, bibliografia básica de disciplinas introdutórias à Psicologia social de vários cursos de graduação, como, por exemplo, o da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) ( -ZANELLAPSI-7505-Psicologia-Social-II-2012.1.pdf) e o da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) ( -%20T%F3picos%20em%20Psicologia%20Social%20I%20.doc). Além disso, alguns cursos oferecem disciplinas voltadas especificamente para a Psicologia sociohistórica desenvolvida por Lane, como o Centro Universitário UNA ( ) e a Universidade Luterana do Brasil (ULBRA) ( -psicologia.pdf).


Podemos dizer que o fato de as psicologias sociais de Lane e de Rodrigues coexistirem até os dias de hoje nos dá um forte indício da não linearidade da História. Ao contrário do que afirmam alguns autores, a crise de referência não representou um divisor de águas propriamente dito afinal, ela não eliminou por completo a Psicologia social norte-americana e a substituiu por uma ciência dita politicamente comprometida. Além disso, ainda que possa diminuir sua hegemonia, uma ciência nunca substitui completamente a outra, pois aquilo que está reduzido ou esquecido em um momento pode ressurgir no momento seguinte, o que está em segundo plano pode, em seguida, passar a ser o foco de nossa atenção (Mol & Law, 2002).


Neste artigo, argumentamos que, hoje, coexistem a psicologia social de Lane e a de Rodrigues. Coexistem a ciência básica que faz uso de laboratórios, experimentos e escalas para estudar o comportamento interpessoal e a ciência politicamente comprometida e preocupada em entender como o ser humano se torna agente da História. Argumentamos, portanto, que a Psicologia social brasileira é complexa, e que essa complexidade não cabe na tênue linha do tempo que muitas vezes traçamos para representar o desenvolvimento de disciplinas acadêmicas. Além disso, argumentamos que, para contar a história da Psicologia social brasileira, não basta falar de personagens e de fatos, mas é preciso, também, falar de práticas, objetos, instrumentos... ou seja, é preciso falar dos atores humanos e não humanos que participaram da construção dessa história. Ao admitirmos que, em um campo do conhecimento, coexistem diferentes teorias, metodologias e objetos de estudo, nós admitimos ser complexa a realidade. E aprender a trabalhar com a complexidade, com a diversidade e com as controvérsias é tarefa inevitável da ciência crítica (Spink & Cordeiro, 2009).


  • * Doutora em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e pós-doutoranda no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, São Paulo - SP Brasil. E-mail: mpriolicordeiro@gmail.com

  • 1 Muitos(as) pesquisadores(as) da TAR utilizam técnicas etnográficas tradicionais para seguir os atores que fazem parte de uma rede. Acompanham ao vivo o surgimento e o desaparecimento de vínculos e associações entre atores heterogêneos; falam, portanto, do presente. No entanto, isso não quer dizer que as ideias propostas pela TAR não possam servir para pensar sobre o passado o próprio Latour realizou pesquisas sobre controvérsias científicas bastante antigas. Além disso, no presente trabalho, não buscamos contar a história da Psicologia social brasileira tal como os historiadores a fariam, mas, assim como Latour, buscamos usar a história como um neurocientista usaria um rato (1998, p. 12), abrindo seu corpo para seguir os mecanismos que nos permitem compreender os conteúdos e os contextos de uma ciência. Por essa razão, a apresentação de materiais documentais não segue o caminho proposto pela História, mas a rede de associações que lentamente fazem o mundo (1998, p.12).

  • 2 Com o fortalecimento dessas teorias e metodologias, começou a pensar-se na necessidade de criar uma associação que representasse as novas Psicologias sociais. De acordo com Lane e Bock (2003), essa necessidade foi bastante discutida durante o congresso da SIP de 1979, sendo que, logo após o evento, foi nomeada uma comissão para redigir o estatuto dessa nova associação. No ano seguinte, durante a reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), esse estatuto foi votado e aprovado, instituindo oficialmente a Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO). Segundo as autoras, as intenções políticas da ABRAPSO sempre foram a construção de uma psicologia social crítica, voltada para os problemas nacionais, que acatasse diferentes correntes epistemológicas, desde que filiadas ao compromisso social de contribuir para a construção de uma sociedade mais justa. A ABRAPSO nasceu da insatisfação com a psicologia européia e americana. Os problemas de nossa sociedade, marcada pela desigualdade social e pela miséria, não encontravam soluções na psicologia social importada como um saber universal dos países do Primeiro Mundo (p. 149).

  • 3 Latour (2008) faz uso da expressão caixa-preta para se referir-se a todo conhecimento legitimado pela ciência, de tal forma que ele se torna quase indiscutível.

  • 4 As edições mais recentes desse livro estão em coautoria com Eveline M. L. Assmar e Bernardo Jablonski. A 28ª edição é de 2010.



O objetivo deste estudo foi conhecer como pesquisadores da Psicologia Social brasileira a concebem, considerando a dicotomia ciência-prática. Participaram 100 representantes de grupos de pesquisa dessa disciplina. Estes responderam questionário online com cinco partes: concepções da psicologia social, representantes da área, periódicos de referência, atitudes frente à disciplina como ciência aplicada e básica e informações demográficas. A psicologia social foi concebida como sócio-histórico-crítica, polarizando entre Silvia Lane e Aroldo Rodrigues. Considerou-se Psicologia & Sociedadec omo mais apropriada para publicações desta área, destacando-se internacionalmente o Journal of Personality and Social Psychology. As atitudes dos participantes a caracterizaram como mais aplicada. Concluindo, predomina a perspectiva abrapsiana no Brasil, divergindo alguns pesquisadores da psicologia social clássica. 2ff7e9595c


1 view0 comments

Recent Posts

See All

Comments


bottom of page